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Espetáculo Musical 'CUCA ROSETA'

28 Ago '21
Espetáculo Musical  "CUCA ROSETA"

Realiza-se, no sábado, dia 28 de agosto de 2021, o espetáculo musical com "CUCA ROSETA", às 21h30, no Largo Parracho Branco - Praia da Vagueira.

Este é um evento do projeto "Animar o Verão 2021", da Câmara Municipal de Vagos e realiza-se no âmbito da candidatura "Garantir Cultura".

Uma vez que é necessário garantir, acima de tudo, a segurança em termos de saúde pública, as atividades decorrerão sempre cumprindo todas as normas exigidas no âmbito do contexto pandémico e encontram-se sujeitas a alterações conforme as indicações emanadas pela Direção Geral de Saúde (DGS) no que diz respeito à evolução da pandemia de COVID-19.

Portanto, o espetáculo decorrerá com lotação reduzida sendo obrigatório:

  • o uso de máscara
  • a manutenção da distância de segurança
  • a desinfeção das mãos à entrada e saída do espaço.

Entrada gratuita condicionada a apresentação de bilhete.

Os bilhetes estarão disponíveis para levantamento uma semana antes do respetivo espetáculo e devem ser levantados, previamente, nos seguintes locais:

  • Biblioteca Municipal de Vagos
    • Horário: segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00 e ao sábado das 10h00 às 13h00
  • Biblioteca de Praia
    • Horário: Segunda a domingo, das 10h00 às 13h00 

Informamos que a hora prevista de início dos espetáculos é às 21h30 e que os lugares só estarão reservados até às 21h15, sendo posteriormente disponibilizados para quem estiver interessado em assistir ao espetáculo.

 

Cuca Roseta

Meu

Não o sabíamos ainda, mas há muito que esperávamos por Meu. Desde que se estreou com o disco homónimo Cuca Roseta, em 2011, a voz delicada e elegante que nasceu para o fado no Clube de Fado de Mário Pacheco e que foi revelada ao mundo nesse primeiro disco produzido pelo argentino Gustavo Santaolalla (vencedor de Oscars para Melhor Banda Sonora graças ao seu trabalho nos filmes Babel e O Segredo de Brokeback Mountain), vinha ganhando um espaço autoral nos seus registos de estúdio e nos incontáveis palcos que pisa todos os anos.

Ao longo da última década, e à medida que ia construindo uma discografia muitíssimo pessoal, fundada no fado mas atrevendo-se a viajar para muitos outros lugares (da música pop aos sons brasileiros, das canções de natal ao folclore), Cuca foi percebendo o quanto era importante que as novas canções tivessem o selo de aprovação do público antes de serem eternizadas em estúdio.
Não abdicando de cantar os temas e as palavras que lhe preenchiam a alma, a cantora aproximava-se ainda mais dos seus admiradores, estabelecendo pontes e sabendo ouvir a opinião de quem tão generosa e apaixonadamente a ouve também e lhe dedica entusiásticas ovações. Assim, a escuta passou a fazer-se nos dois sentidos (o público escuta as canções; Cuca escuta as suas preferências e opiniões) e permitiu iluminar as escolhas da cantora.

Quando começou a acolher no reportório as suas próprias composições, Cuca estabeleceu uma regra simples. Uma regra simples que poderia não ser a ideal para os prazos ditados pela indústria, mas que respeitava a mais verdadeira relação possível com a música: havia de compor e escrever as suas canções sempre que se sentisse inspirada para tal. Quer estivesse em casa, sentada ao piano, quer se encontrasse fechada dentro de um avião quando uma melodia descobrisse forma de lhe invadir a imaginação.

Nos últimos anos, deu por si a deitar cá para fora perto de 80 músicas. Dessas largas dezenas, o palco e o público encarregaram-se de lhe mostrar quais se destacavam e mais afirmavam a sua marca autoral, urgindo fixar em estúdio.

Este facto, único na História do fado, de uma artista que escreve e compõe todos os temas de um dos seus discos, demonstra também a sua extrema coragem – compensada por este notável conjunto de canções.

Daí que Cuca tenha escolhido batizar este novo álbum com o título Meu. Aqui tudo lhe pertence – cada palavra, cada acorde, cada melodia. Depois, claro, são partilhados e enriquecidos com os contributos com os músicos que melhor a conhecem. Mas nesta tarefa difícil de peneirar entre as muitas ideias que Cuca foi acumulando, tamanha é a sua paleta de influências, um fio condutor acabou por se impor naturalmente, uma linha que cose as ligações entre estes 12 temas, cada um deles um mundo autónomo, uma pequena ilha onde a voz da cantora explora uma história e uma faceta distintas. E logo se concluiu que aquilo que faz destas ilhas um arquipélago coerente é, afinal, uma raiz clara e profundamente portuguesa.

Esta raiz, como é fácil de adivinhar no caso de Cuca Roseta, espalha-se com profundidade e propriedade pelo fado, pelo folclore, pela música popular portuguesa e pelas baladas, com uma escapada até uma coladera (com travo a samba também), que em “Negrita” estabelece o diálogo musical com outras paragens do mundo que connosco partilham a língua e que há muito adoptaram a cantora como uma das suas filhas. É pelo peso fadista que avançamos com os belíssimos “Preto e Branco” e “Finalmente”, dois temas fundados no amor mas interpretados com a carga emocional que só o fado sabe emprestar; para logo sermos trazidos para cima com a música tradicional e o folclore que se desprendem dos excelentes retratos populares que encontramos em “Bairro Português”, “Roda da Saia” ou “Chiça Penico”. E, claro, somos depois envolvidos por canções de clara linhagem pop, que Cuca domina na perfeição, em “Amor de Domingo” e “Não Sei de Onde”.

“Não Sei de Onde” é um caso especial. Era já um dos maiores sucessos junto do público, mas Cuca hesitou entre qual o melhor arranjo para defender a profunda delicadeza de que a cantora veste o frágil mistério do amor. Por isso, optou por duas versões, igualmente minimalistas, gravando o tema na companhia da guitarra clássica de Tuniko Goulart, e do piano de Rui Caetano – a que cabe a despedida, numa toada mais tranquila e introspectiva. Meu está, afinal, recheado destes magníficos recantos que se vão descobrindo enquanto navegamos por géneros tão distintos mas que sabemos pulsarem com a mesma verdade e a mesma intensidade na voz de Cuca.
Exemplos flagrantes desta verdade, entregue com inultrapassável intensidade, são as gravações do mergulho às águas mais profundas da alma fadista em “Grito” e “Meu”. Depois de cada um destes temas, aparecem “Chiça Penico” e “Roda da Saia”, numa aproximação em disco dos alinhamentos ao vivo em que Cuca vai doseando temas lentos e rápidos, construindo uma dinâmica a pensar no público mas também a pensar em si – porque sempre que se permite “ir mais ao fundo e tocar na dor”, como descreve, precisa depois de vir à superfície e rodear-se de algo mais leve. No fundo, procura sempre o mesmo equilíbrio que se aplica ao quotidiano: se há dor e lágrimas, e é bom sabermos viver com elas, haja depois sorrisos, gargalhadas e passos de dança.

Tudo isso faz parte da sua verdade. E foi a essa verdade que quis manter-se sempre fiel em Meu, começando pela composição das canções e a escrita das letras, e passando pela gravação com os músicos que a acompanham em concerto, entre os quais o baterista e percussionista Ivo Costa, responsável também pela produção.
Em cada passo do caminho para este álbum, Cuca assume-se a narradora da sua história, adensando também o conhecido de si própria. Mas é claro que Meu alimenta-se também da certeza de que, ao chegar aos seus ouvintes, a história de Cuca se encontrá e se misturará com a história de quem a ouve. Fazendo com que este Meu – que espelha o seu percurso – possa ser partilhado por alguém, do outro lado, que acabe por afirmar que este disco também lhe pertence.

Meu é o disco mais verdadeiro e pessoal de Cuca Roseta. Mas o Meu de Cuca Roseta é também de cada um de nós.